5 condições para Temer dar certo, segundo Cristovam Buarque
Em palestra na ACSP nesta segunda-feira (15/8), senador pelo Distrito Federal (na foto, à dir.) mencionou a credibilidade, a estabilidade da moeda, o diálogo, o crescimento e a volta dos empregos
O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) acredita existirem cinco condições para que o presidente interino Michel Temer possa ganhar legitimidade e apaziguar o país até 2018: credibilidade, estabilidade da moeda, diálogo, crescimento e volta dos empregos.
Ele palestrou nesta segunda-feira (15/08) como convidado do COPS (Conselho Político e Social), órgão da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), que tem como coordenador o ex-senador catarinense Jorge Bornhausen.
Cristovam, que já foi reitor da Universidade de Brasília, governador do Distrito Federal e por um curto período ministro da Educação, no governo Lula, desenhou um diagnóstico sombrio sobre os múltiplos problemas deixados pela presidente afastada Dilma Rousseff, e que podem ser resumidos no temor recentemente expresso pelo ex-senador e ex-presidente José Sarney.
Trata-se do risco de “desaglutinação da sociedade”, um conjunto de divisões internas que foram sendo estimuladas pelas administrações petistas e cuja ruptura definitiva, caso ocorresse, desequilibraria o Estado e tiraria dele a possibilidade de cumprir seu papel de conciliação.
“Os partidos políticos hoje não estão arraigados na sociedade, a Constituição desagrega por criar mais direitos que deveres, o corporativismo colocou os interesses de grupos adiante dos interesses nacionais.”
E há sobretudo, disse Cristovam Buarque, a desigualdade social como fator desagregador. “Um pobre não pode morrer por não ter um serviço de saúde pelo qual um rico pode pagar.”
São questões graves, que não podem ser politicamente resolvidas a curto prazo. Trata-se, de qualquer forma, de um legado altamente negativo que deve ser atacado com urgência, de olho em 2022, data simbólica em que o Brasil comemorará o segundo centenário de sua Independência.
CREDIBILIDADE DE TEMER
Com o horizonte mais próximo de 2018, em que a presidente da República foi substituída por um vice que ela escolheu por duas vezes (“e por isso não é golpe”), há questões mais urgentes a serem resolvidas.
É nesse ponto que se enquadram as condições para a curta travessia de pouco mais de dois anos que deverá ser percorrida por Michel Temer.
A credibilidade o presidente ainda interino já possui. Vem a seguir a estabilidade da moeda, fundamental, disse o senador, porque a inflação facilita a irresponsabilidade nos gastos do setor público. “O grande erro da esquerda nostálgica foi de não respeitar a aritmética”, menção ao equilíbrio entre gastos e receitas.
O terceiro item é o diálogo para quebrar o sectarismo, pelo qual parte da sociedade acredita estar, de maneira simplificada, diante apenas de corruptos que se debatem com golpistas.
“Quebramos a capacidade de dialogar, mas o governo começa a dar certo”, afirmou. Depois de alertar contra “retrocessos nos programas sociais”, o senador citou como quarto e quinto itens para o atual governo o crescimento e a volta dos empregos.
O crescimento, disse, “só virá com a credibilidade por parte dos empresários, que em seguida fariam novos investimentos”. Caso esse crescimento seja superior a 1,5% ao ano, a médio prazo o desemprego também começará a cair.
Cristovam Buarque disse confiar na capacidade de Temer em dialogar com o Congresso (“Dilma era inapetente ao diálogo”) e convencê-lo da prioridade, por exemplo, de reformar a Previdência e mudar as leis trabalhistas.
Em 2018, afirma, caso Temer não seja bem-sucedido, haveria o risco de reemergência do populismo, não necessariamente com Lula, mesmo porque ele talvez não esteja em condições judiciais de concorrer, mas com alguém de sua mesma corrente de atuação.
A possibilidade de ideias irrealistas deveria ser desde já contraposta a novas ideias. Cristovam Buarque as exemplificou com o fim de certas falácias, como aquela que associa o serviço público ao serviço estatizado.
“O bom hospital público é aquele que dá bom atendimento, mas ele pode estar em mãos de uma Organização Social ou ser privado.”
PRIORIDADE À EDUCAÇÃO
Por fim, o senador discorreu sobre um antigo tema de sua predileção, a educação, que foi o miolo de sua plataforma ao disputar, em 2006, a Presidência da República pelo PDT.
Citou uma entrevista dada há muitos anos pelo futebolista Raí, indagado sobre o que mais havia apreciado nos anos em que jogou na França.
Raí respondeu que os filhos de seu motorista e os filhos de sua diarista frequentavam a mesma escola pública de qualidade que os seus próprios filhos.
Estamos, então, diante de uma questão fundamental que já foi enfrentada com êxito pela Coreia do Sul e que hoje também se tornaram prioridade na Colômbia, Turquia e Chile.
O senador propõe a substituição gradativa pelo atual sistema educacional – em que os professores ganham pouco, mas têm estabilidade de emprego – por um programa federal no qual, em troca de um salário mensal de R$ 10 mil, eles seriam avaliados a cada cinco anos e, em caso de avaliação negativa, poderiam ser dispensados.
Seria um programa implantado nos municípios pelo governo federal, conforme experiência que ele próprio tentou em 29 pequenas cidades, quando ministro, em 2004.
FOTO - Thaís Ferreira