Empresa é a instituição mais confiável para brasileiro
Globalmente, o governo continua sendo a instituição menos confiável pelo quarto ano consecutivo da pesquisa Trust Barometer, com níveis de confiança abaixo de 50%
Depois de escândalos empresariais na mudança de século – como o emblemático caso da gigante norte-americana Enron, que de empresa mais admirada daquele país tornou-se mero espólio de um amontoado de farsas, o panorama da construção de marcas nos fez perceber que apenas uma boa reputação não é importante. Cabe às empresas manterem-se alinhadas às mutantes expectativas da sociedade. E, quando se fala sobre demandas futuras, o indicador mais correto é confiança. Em um mundo que pede mais vínculos entre indivíduos e instituições, trata-se de um aspecto fundamental para a perenidade de qualquer relacionamento.
Foi neste contexto que, em 2001, surgiu a pesquisa Trust Barometer, realizada pela agência multinacional de relações públicas Edelman. Lançada em primeira mão no Fórum Econômico Mundial, em Davos, teve seu capítulo brasileiro divulgado nesta quinta (5) em São Paulo.
O estudo contempla 33 mil entrevistas em 27 países, das quais 6 mil ocorrem junto a líderes de opinião e, o restante, com mil pessoas em cada nação. Nele, a confiança é abordada a partir das percepções dos respondentes sobre quatro instituições fundamentais para a sociedade civil: governo, empresas, mídia e organizações não-governamentais.
No ranking geral de países, que pondera a confiança nestes quatro grupos institucionais, o Brasil figura como sétimo entre o público informado e décimo, quando a amostra considerada é a de população geral.
As empresas ocupam liderança como o grupo institucional mais confiável para 73% dos respondentes brasileiros, seguidas pelas organizações não-governamentais (70%). O poder público, pelo segundo ano seguido, registra cerca de metade da credibilidade conferida ao setor privado, com apenas 37%, enquanto a mídia apresentou um ligeiro declínio na confiança da população com uma queda de sete pontos percentuais em relação a 2014, registrando 56%. A amostra global do estudo revela uma importante redução na confiança da população geral no governo, na iniciativa privada, nas ONGs e mídias.
Em dois terços dos 27 países que compõem a pesquisa, o nível de confiança geral está abaixo dos 50 pontos, o pior resultado desde 2008. As maiores baixas foram no Canadá (15 pontos percentuais a menos, atingindo 47), na Alemanha (12 pontos, 45), na Austrália (11 pontos, 48) e em Cingapura (10 pontos, 61).
Globalmente, o governo continua sendo a instituição menos confiável pelo quarto ano consecutivo, com níveis de confiança abaixo de 50% em 19 dos 27 países pesquisados, como nos EUA (41%), no Reino Unido (43%) e no Japão (40%) e Brasil (37%). A confiança nas ONGs caiu ou manteve os mesmos níveis do ano anterior em aproximadamente dois terços dos países. No Brasil, a credibilidade dessas instituições teve um aumento de oito pontos percentuais (70%), confirmando a recuperação deste grupo a partir das mobilizações populares em torno da Copa do Mundo e transporte público, entre outras. A mídia, como instituição, é crível para 51% dos dos respondentes globais. Pela primeira vez, as ferramentas de busca on-line foram citadas como a fonte mais confiável de informações e notícias em geral (64%) do que a mídia tradicional (62%). No Brasil, a distância se faz ainda maior entre as duas fontes - 79% e 66%, respectivamente.
As lideranças empresariais também enfrentam forte desafio de credibilidade. Uma análise feita na edição de 2015 do Trust Barometer leva em consideração os criadores de conteúdo mais críveis no ambiente digital. Amigos e familiares lideram a lista dos mais confiáveis para 84% dos respondentes brasileiros, seguidos por acadêmicos (81%) e pelas marcas utilizadas pelos respondentes (74%). Os entrevistados mostram neutralidade em relação a CEOs e funcionários de empresas. Celebridades e governantes eleitos figuram entre os criadores de conteúdo menos confiáveis, de acordo com os entrevistados brasileiros.
No cenário global, a confiança no CEO como porta-voz de credibilidade continuou em queda pelo terceiro ano consecutivo. No mundo, os CEOs (43%) e os representantes governamentais (38%) continuam sendo as fontes menos críveis, muito atrás dos especialistas acadêmicos e da indústria (70%) e de uma “pessoa como você” (63%). No Brasil, a credibilidade do CEO chega a ser 20 pontos percentuais mais alta, chegando a 63%. Além disso, a confiança de pessoas comuns ultrapassa o prestígio de especialistas acadêmicos e representantes de ONGs para 84% dos entrevistados.
Pela primeira vez, o estudo investigou a relação entre o ambiente de confiança e a capacidade de inovação em empresas, setores e países. Globalmente, a maioria dos entrevistados acredita que o ritmo das inovações é rápido demais (51%), impulsionado pela tecnologia (70%) e a necessidade de crescimento das empresas (66%), enquanto 24% acreditam que as inovações ocorrem para tornar o mundo melhor. No Brasil, 87% dos entrevistados concordam que as empresas podem adotar ações específicas que aumentem o lucro e também contribuam para melhorias socioeconômicas nas comunidades em que atuam. Nesse cenário, o fracasso das empresas em contribuir para um bem maior é a principal razão para a queda da credibilidade no setor privado na opinião de 56% dos brasileiros entrevistados.
Criar apenas não basta. É preciso que as inovações sejam acessíveis, baseadas nos conceitos de transparência, estimulem a colaboração e tragam benefícios pessoais e sociais ao consumidor. Com as mudanças acontecendo em um ritmo cada vez maior, a inovação tornou-se obrigatória para o sucesso das empresas em um contexto mercadológico em permanente transformação.
Ao cruzar o nível de confiança geral dos países com a média da confiança em inovações recentes, pode-se concluir que existe uma propensão maior para confiar em inovações onde o clima em relação às instituições é favorável. Mercados em desenvolvimento, como o Brasil, são mais abertos à inovação que os desenvolvidos (65% contra 44%). Os Emirados Árabes Unidos, a Índia e a Indonésia – os três países no topo do ranking de confiança – são os que mais aceitam a inovação. De outro lado, diversas nações europeias, incluindo Alemanha, França e Espanha, além de Japão e Coreia, que ocupam os últimos lugares do ranking, são mais céticos diante de inovações.
Quando o assunto é competitividade global de marcas brasileiras, as empresas locais enfrentam um grande desafio. Companhias de origem brasileira têm baixa credibilidade. Entre os 17 países considerados neste recorte, as empresas brasileiras ocuparam a 13a posição, com um nível de confiança de 38%, à frente somente da China (36%), Rússia (35%), Índia (34%) e México (31%). A posição é idêntica à identificada em 2014. Lideram o ranking as empresas suecas (76%), canadenses (75%) e alemãs (75%).
O cenário para multinacionais oriundas de países em desenvolvimento é mais favorável em outros países em desenvolvimento, onde a confiança nestas empresas é de 57%, contra 22% em países desenvolvidos. O desafio de aceitação às multinacionais de países desenvolvidos é menor, pois 77% dos respondentes em países em desenvolvimento dizem confiar nelas. Nos países desenvolvidos, ainda que o número seja menor, ainda é cômodo – 58%.
Além do país de origem, a confiança em uma empresa também é influenciada por outros três elementos - o setor a que pertence, a natureza da empresa, e a credibilidade em sua liderança – que devem ser adicionados a essa equação.
A confiança, além de fortalecer relações, gera impacto direto nos negócios. Cerca de 71% dos entrevistados no Brasil se recusam a comprar produtos e serviços de uma empresa em que não confiam, enquanto 63% a criticam para um amigo ou colega. Inversamente, 80% optam por comprar produtos de empresas nas quais confiam, e 78% recomendam tais companhias a amigos. Apesar da queda no nível de confiança na indústria de tecnologia, que teve redução na maioria dos 27 países pela primeira vez, este ainda representa o setor mais confiável na opinião de 78% dos entrevistados, seguido dos setores eletrônico (75%) e automobilístico (71%). Novamente, os piores colocados neste ranking foram os setores de serviços financeiros (54%), bancário (53%) e mídia (51%).
Confiança, mais que um sentimento ou indicador, será cada vez mais um pilar essencial para a sustentabilidade das relações e dos resultados empresariais.
Quão confiável é a sua marca?