Risco ou incerteza?
Do ponto de vista mais técnico, em economia, risco e incerteza não são sinônimos. Deve-se ao célebre Professor Frank Knight a diferenciação entre os dois conceitos
“O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes
estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas”
(Bertrand Russell)
No último dia de março, o Banco Central publicou seu Relatório Trimestral da Inflação, que, além de detalhar os estudos técnicos que embasaram a decisão do Comitê de Política Monetária (COPOM) de manter inalterada a taxa básica de juros (SELIC), traz o cenário futuro de inflação traçado pela autoridade monetária.
De acordo com as novas projeções “oficiais”, a atividade econômica cairia 3,5%, completando dois anos de forte recessão, o que, em conjunto com a redução da taxa de câmbio atenuaria a inflação – medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que terminaria o ano em 6,6%, levemente acima do limite máximo de tolerância da meta anual (6,5%).
Esses prognósticos são bastante mais realistas do que aqueles veiculados no Relatório anterior, que assinalavam queda do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 1,9% e uma inflação anual de 6,2%, e estão bem mais próximos das projeções dos analistas privados.
Chama a atenção, entretanto, a repetição do termo “incerteza” várias vezes ao longo do relatório, indicando que as previsões anteriores estão sujeitas às “chuvas e trovoadas” da desaceleração do crescimento chinês, da crise política – eufemisticamente chamada de “eventos não econômicos” e da recuperação das contas públicas.
Do ponto de vista mais técnico, em economia, risco e incerteza não são sinônimos. Deve-se ao célebre Professor Frank Knight a diferenciação entre os dois conceitos.
Em ambos casos, evidentemente, não sabemos o que vai acontecer no futuro, porém, no caso do risco é possível estabelecer cenários e ter alguma ideia da chance de ocorrência de cada um deles. Knight se referia a essa situação como “risco calculável”.
Tanto no Relatório de Inflação como nas projeções dos analistas privados, assume-se implicitamente a definição anterior, podendo-se definir diferentes resultados, de acordo com as premissas utilizadas.
Já no caso da incerteza, esta seria “não mensurável”, pois expressa uma situação caracterizada por valores indeterminados e não quantificáveis, sendo o fenômeno analisado de tipo único.
Por certo, o Banco Central e os economistas de mercado, por dever de ofício, devem constantemente realizar projeções do cenário macroeconômico brasileiro atual, porém, dada a crise política sem precedentes vivida pelo País e as inúmeras dúvidas com relação ao “day after” da finalização da votação do impeachment da Presidente Dilma, a situação se assemelha muito mais a uma de incerteza “knightiana”.
O problema é que quanto maior for a duração do desenlace de todo esse “imbróglio” político, sem possibilidade das empresas e famílias traçarem cenários minimamente confiáveis, a atividade econômica intensificará ainda mais sua queda.
O maior temor poderá aumentar a “fuga” para o dólar, o que elevaria o câmbio, resultando numa inflação maior do que o esperado.
É imprescindível que esse período de “incerteza não mensurável” seja abreviado, reduzindo o tempo necessário de recuperação da economia, o que minimizaria os já grandes custos econômicos e sociais enfrentados pela população brasileira.