Política e economia não se entendem
A política brasileira está tão fora de sintonia com a realidade do país e os políticos tão preocupados em salvar a sua pele que já se começa a difundir a ideia de que a culpada de toda essa tragédia que assola o país é a Lava Jato!
Um avanço importante do governo Temer foi o enquadramento da política macroeconômica, retomando os fundamentos da estabilidade monetária e do controle do déficit fiscal. Importantes, também, tem sido a retomada da credibilidade internacional e as ações pontuais de caráter microeconômico.
Não é pouca coisa, dada a situação caótica da economia decorrente dos desvarios dos “anos dourados”, da exacerbação descontrolada do consumo, dos mimos aos empresários amigos, do declínio das taxas de investimentos, da perda de competitividade da indústria e, não menos importante, da degradação das infraestruturas.
Não se pode negar que havia método nessa dourada insensatez. Não foi tarefa simples criar esta brutal recessão a partir de fatores internos, já que não houve fator relevante de causação externa.
Mas no Brasil há sempre obstáculos às tentativas de dar um rumo certo à economia. Quando se busca medidas de ajuste fiscal, reformas para pôr a economia novamente nos trilhos e estabilidade para restituir credibilidade e gerar perspectivas, a política entra em cena para confundir.
Em um país grande, desequilibrado e muito desigual é difícil que a política aponte para caminhos que tirem o país da recessão.
Empresários, trabalhadores, funcionários públicos e políticos querem crescimento, geração de renda e de empregos, bem como generosas benesses do Estado.
O problema é que ninguém aceita fatos simples como esses: o Estado brasileiro está quebrado em seus três níveis, o déficit público chegou ao descontrole, a Previdência Social em breve não terá como pagar benefícios (como aliás já acontece em muitos estados) e a carga tributária tornou-se insuportável.
A mãe de todos os problemas é, ao fim e ao cabo, um impasse de solução constantemente adiada. De um lado, a política brasileira estacionada no patrimonialismo, clientelismo e sugação parasitária do Estado que remonta ao Século XVIII e à sólida formação autoritária ibérica do país.
De outro, a economia precisando romper amarras para se inserir no Século XXI e em um mundo crescentemente globalizado e competitivo.
Exceto alguns poucos segmentos, como o agronegócio e poucos setores industriais, a iniciativa, o empreendedorismo e a inovação são contidos sistematicamente pela burocracia infernal, pelo sistema tributário alucinadamente perverso e pela falta de regras claras na economia.
Ou seja, o pretendente a correr a desafiante maratona das decisões de investir e gerar empregos tem que fazê-lo descalço, em pista de cascalho e com obstáculos pela frente. E corre o risco de ser informado ao final da corrida que houve mudanças nas regras da própria corrida.
A política brasileira está tão fora de sintonia com a realidade do país e os políticos tão preocupados em salvar a sua pele que já se começa a difundir a ideia de que a culpada de toda essa tragédia que assola o país é a Lava Jato!
Como se essa operação inovadora, globalizada e de eficiência impressionante fosse a causa e não o inevitável resultado dos desmandos, da roubalheira generalizada e das pilhagens aos cofres públicos.
A Lava Jato, ao contrário, só pode ajudar a economia, na medida em que restitui credibilidade às instituições e sinaliza para a necessidade de transparência e segurança jurídica nos negócios com o Estado.
O grande desafio do governo Temer – se quiser ser reconhecido como aquele que soube superar a maior recessão da nossa História – é o de resolver o impasse entre a economia e a política.
Se a disposição de ajustar a economia é visível, o mesmo não se pode dizer da disposição de gerir os não menos graves problemas, distorções e obstáculos da nossa política.
Trazer a visão que políticos, empresários e trabalhadores têm do Estado brasileiro para situar a economia do país no mundo globalizado significa trazer a política e as instituições – teimosamente ancorados no Século XVIII – para o presente.
É tarefa para super-heróis mitológicos e, infelizmente, nosso ambiente político – com as raras exceções de praxe – é de anti-heróis...
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