Pé na estrada
O grupo de caminhantes tucanos que foi a Brasília pedir o impeachment de Dilma esbarrou no realismo de Aécio. Afastar a presidente seria entregar o poder ao PMDB
Não deixa de ter aspecto desolador a foto do reduzido grupo de tucanos andarilhos que, depois de percorrer centenas de quilômetros enfrentando sol e chuva, rompeu triunfalmente a fita de chegada em Brasília, em busca de apoio de seu partido, o PSDB, para fortalecer o encaminhamento no Congresso do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Apesar da eleição presidencial ter sido realizada em outubro do ano passado, os tucanos que marcharam cerca de mil quilômetros, ainda não se convenceram que foram derrotados nas urnas.
O grupo, no entanto, foi surpreendido com a decisão de última hora do senador Aécio Neves de abandonar "temporariamente" a tese do impedimento de Dilma e aderir à ideia de acionar juridicamente a presidente "pela prática" das chamadas pedaladas fiscais.
O PT, contudo, descobriu que "o lobo perde o pelo mas não perde o hábito", porque pedaladas semelhantes ocorreram também nos governos Fernando Henrique Cardoso. Irritados com o recuo de Aécio, os andarilhos acusaram o senador e o PSDB de terem traído a oposição porque "são farinha do mesmo saco".
Aécio Neves decidiu não aderir à tese do impeachment porque o jurista tucano Miguel Reale Jr. não encontrou brecha na Constituição para cassar o mandato de Dilma, por falta de provas concretas que pudessem incriminar a presidente.
Do ponto de vista eleitoral, a decisão de Aécio foi correta, porque o PSDB não pode levar o vice Michel Temer a assumir a presidência da República.
Na presidência e com a chave do cofre na mão e a caneta cheia de tinta no bolso, Temer fortaleceria de tal maneira seu partido que deixaria o PMDB em condições satisfatórias para lançar candidato próprio - e forte - ao Palácio do Planalto em 2018, dificultando, inclusive, a passagem do candidato do PSDB ao segundo turno.
Detalhe: Reale foi Ministro da Justiça de FHC.
Hoje, o PSDB precisa apenas derrotar o PT para reconquistar o Planalto; mas, se o partido de Temer lançar candidato próprio, o tucano terá de derrotar não só o PT, mas também o PMDB se pretender eleger o presidente.
Haveria, então, o risco que o PSDB não tem atualmente, o de não passar do primeiro turno. Cassar Dilma, portanto, seria o mesmo que dar um tiro no pé.
O bom senso indica que a melhor solução para o PSDB é assimilar a derrota de 2014 e começar a pensar, desde já, nas eleições de 2018. Se o PSDB continuar acreditando na falácia de que pode eleger o próximo presidente apenas com o desgaste do PT devido à crise, ao Mensalão, ao Petrolão e ao Panelaço, o partido pode ser condenado a continuar batendo panelas até 2022.
É preciso não perder de vista o óbvio: desde que a democracia foi inventada, eleição se ganha com votos. O resto é trololó, como diz o senador José Serra.
É um engodo também o tucanato acreditar que a imprensa elege ou derrota candidatos a prefeito, governador e presidente da República. O máximo que a imprensa pode fazer é colaborar na eleição de dois ou três candidatos às casas legislativas.
A imprensa não tem a força eleitoral que pensa que tem em eleições majoritárias. José Serra, por exemplo, contou com o apoio irrestrito da imprensa nas eleições em que concorreu a cargos no Executivo, mas perdeu três disputas com o PT: em 2002, perdeu para Lula; em 2010, foi derrotado por Dilma; e, em 2012, foi surpreendido por Fernando Haddad, sendo derrotado na eleição para a Prefeitura de São Paulo.
Outro exemplo mais recente é o de 2014, em que Aécio Neves recebeu o apoio ostensivo da imprensa, mas o resultado da eleição foi novamente adverso para o PSDB. Mas, como conseguiu 51 milhões de votos na derrota para Dilma Rousseff, Aécio quer ter uma segunda oportunidade de concorrer ao Palácio do Planalto, já em 2018.
O PSDB, no entanto, tem outros dois pretendentes à legenda presidencial, José Serra e Geraldo Alckmin, ambos igualmente consagrados nas urnas no ano passado.
O PSDB dificilmente vai evitar a convenção que pode decidir qual dos três presidenciáveis será o candidato do partido. Os tucanos querem evitar o racha que costumeiramente ocorre quando um partido realiza convenção para indicar seu candidato.
O sonho de Aécio Neves é ter Geraldo Alckmin como vice. Nesse caso, os dois precisariam passar a perna em José Serra.