O custo econômico da espera
Quanto mais demorada a ratificação do impeachment, transformando o governo interino em efetivo, mais lenta será a recuperação da economia brasileira
"Não existe almoço grátis"
Milton Friedman
Apesar de anunciar algumas medidas de ajuste econômico, sendo a principal o estabelecimento de um “teto” para o crescimento das despesas públicas, o governo de Michel Temer tem sinalizado que aguarda pela ratificação do impeachment de Dilma Rousseff para anunciar outras decisões de política econômica “mais impopulares”.
Essas decisões provavelmente significarão um aumento do “aperto fiscal”, com cortes mais profundo de gastos, maior redução, ou até eliminação das desonerações tributárias, não se descartando (infelizmente), elevação de impostos, intensificação das privatizações e, possivelmente, uma proposta de reforma da Previdência mais ousada do que se tem discutido até agora.
O “estrago” nas contas públicas, verdadeira “herança maldita” das administrações petistas, foi de tal monta que requererá vários anos para que o setor público possa deter a escalada “explosiva” de seu endividamento.
Contudo, na medida em que o ajuste das contas públicas se aprofundar, resgatando a credibilidade na política econômica, haverá uma recuperação da confiança de consumidores e produtores mais intensa, o que se traduzirá em aumentos do consumo e da produção, e, portanto, da atividade econômica.
Além disso, a menor expansão do gasto público reduz a pressão sobre a despesa total da economia, contribuindo para diminuir a inflação, possibilitando, assim, a redução da taxa de juros por parte do Banco Central, o que também reforçaria os aumentos anteriores.
Evidentemente, quanto mais demorada a ratificação do impeachment, transformando o governo interino em efetivo, mais lenta será a recuperação da economia brasileira. Nesse sentido, seria possível quantificar o “custo” para o país dessa situação de “stand by”?
Algumas simulações realizadas no Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo indicam que os impactos dos aumentos da confiança dos empresários e dos consumidores sobre a atividade econômica, apesar de serem imediatos, alcançariam resultados máximos em 7 e 9 meses, respectivamente.
Ou seja, a recuperação da confiança das famílias e dos empresários registrados em junho implicariam em efeito positivo significativo sobre a atividade econômica somente a partir do começo de 2017.
Supondo que o alongamento do impeachment signifique pelo menos três meses a mais de interinidade, as mesmas simulações indicam que a perda em termos de atividade econômica equivaleria a aproximadamente 0,38% do Produto Interno Bruto (PIB), o que corresponde a cerca de R$ 22,4 bilhões.
Esse custo, entretanto, poderia ser ainda maior se recordarmos que, em uma situação normal, estima-se que uma alteração da taxa básica de juros por parte do Banco Central tarda alguns meses em afetar o consumo das famílias e o investimento produtivo.
No caso do consumo, a demora se explica pelo fato de que o brasileiro tende a ser mais sensível ao valor final da prestação do que à mudança da taxa de juros, enquanto no segundo caso a causa reside no tempo mínimo requerido para que as empresas tomem suas decisões relativas a novos empreendimentos.
Essa defasagem dos efeitos da política monetária poderia ampliar-se caso a retomada da confiança seja interrompida pela demora em finalizar com a interinidade do governo. Assim, mesmo que a autoridade monetária decida reduzir os juros durante os próximos meses, a atividade econômica levaria muito mais tempo em reagir.
Infelizmente, esse enorme custo econômico que tem sido imposto à sociedade não tem sido considerado pelo Congresso e pelo Judiciário que, para assegurar o direito de defesa de Dilma Rousseff, alongaram o processo de impeachment além do necessário.
Em economia, aprendemos, que mesmo que uma ação determinada gere benefícios, também produzirá necessariamente custos, nem sempre “pagos” pelos autores dessa ação.