Fim de ciclo
Chegou a hora de chamar os profissionais, se é que ainda existem. O ciclo da política feita por antigos líderes estudantis e sindicais, com as suas obvias visões dominadoras, excludentes e inconsequentes, chegou ao seu esgotamento.
Quando se sobrepõem três crises de grandes proporções – quais sejam, econômica, política e social – acende-se um sinal de emergência para a sociedade.
Os conflitos e tensões se exacerbam, mas, na melhor tradição brasileira, começa-se a afastar os radicalismos e a buscar uma solução capaz de articular uma nova composição política com o equilíbrio necessário para conduzir o país.
Diante do alerta, o objetivo passa a ser o de viabilizar uma nova governança que tenha a disposição de mudar o rumo das opções econômicas e políticas.
O fracasso da “Nova Matriz Econômica” deixou um legado preocupante de inflação fora de controle, crescimento negativo e desarticulação das contas públicas.
Justamente a mudança de rumo que prometia um novo e glorioso ciclo de desenvolvimentismo – com um “pouquinho” de inflação, bem entendido – trouxe, como consequência, o gosto amargo de um passado que julgávamos para sempre superado.
O desrespeito à aspiração da sociedade pela estabilidade da moeda não poderia deixar de ter consequências políticas.
Começou, assim, a desmoronar a governabilidade do país mantida à custa de fantásticos esquemas de corrupção e submissão do Legislativo aos desígnios de um Executivo imperial.
Todavia, de forma surpreendente, o Legislativo passou a dar demonstrações de independência, e partidos políticos começam a se reagrupar em busca de novas alianças capazes de viabilizar alguma estabilidade política para gerir o país neste grave momento.
O conjunto da obra do governo Dilma 1 e o delírio consumista do governo Lula 2 só poderiam desembocar em inflação, recessão e desemprego. E agora cabe aos políticos terem a grandeza e descortino para resolver um imbróglio destas proporções.
O que não é tarefa fácil para um Congresso que vinha sendo submisso ao Executivo e paroquial nas suas aspirações. A dimensão e complexidade das crises exigem postura de grandes estadistas.
A crise social obviamente se agrava com as perspectivas de crescimento da inflação e do desemprego, jogando por terra precisamente as conquistas de redução da pobreza e busca de maior equidade.
O discurso oficial, cada vez mais, se descola da dura realidade das famílias, e esse distanciamento alimenta um ambiente de crescente insatisfação e frustração.
As tensões sociais, acompanhadas de níveis inéditos de violência e criminalidade, tornam a sociedade refém do crime organizado, o qual, como diria o saudoso Millor, é produto de um Estado desorganizado.
O cansaço com a corrupção e a violência, ao contrário do que a “ideologia” oficial quer dar a entender, não é um capricho da “classe média”. Na verdade, são os pobres e a “nova” classe média aqueles mais atingidos por essas duas pragas.
E, afinal, não era a nova classe média que o governo tanto exaltava como conquista da ascensão social? A redução da pobreza não iria diminuir a criminalidade? E achava-se que esta nova classe média jamais iria protestar contra a péssima qualidade dos serviços públicos, a corrupção ciclópica e a carestia?
Crise econômica e tensões sociais tendem a ser mais bem resolvidas no plano político.
Mas, para isto, é preciso que se tenha uma visão clara, objetiva e serena do que deve ser feito. Não é com arroubos demagógicos e marketing de um país de fantasia – e, claro, nem jogando gasolina na fogueira – que iremos resolver esses problemas.
Chegou a hora de chamar os profissionais, se é que ainda existem. O ciclo da política feita por antigos líderes estudantis e sindicais, com as suas obvias visões dominadoras, excludentes e inconsequentes, chegou ao seu esgotamento.
Neste país, que na genial síntese atribuída à Oswaldo Aranha é “um deserto de homens e ideias”, é importante que os melhores assumam o compromisso de reorientar o comando político. É a hora de virar a página...