Como Paola Carosella se tornou uma empreendedora de mão cheia
Cozinheira e jurada do Masterchef, ela conta como superou obstáculos: as sociedades que fracassaram e uma dívida superior a R$ 2 milhões
Há quatro anos, tudo o que Paola Carosella, 44 anos, tinha era uma carreira profissional incerta, um restaurante quase falido e uma dívida de R$ 2 milhões.
No entanto, quem vê a participação da dona dos restaurantes Arturito e La Guapa, como jurada do programa culinário Masterchef, sabe que esse jogo virou e que, hoje, Paola é uma das chefs mais bem-sucedidas do ramo gastronômico.
Filha de imigrantes italianos, Paola é argentina e aprendeu a cozinhar com a avó materna, com quem passava as férias e os finais de semana.
Foi ali que aprendeu boa parte do que precisava para conseguir o primeiro emprego como ajudante de cozinha. Há 25 anos, quando ela se decidiu pela carreira, ainda não havia um curso superior de gastronomia.
Tudo o que ela acumulava eram as receitas da matriarca e a experiência de cozinhar durante os dias da semana para a mãe, que a criou sozinha em um apartamento, em Buenos Aires.
“Minha mãe trabalhava muito, mas era sempre muito triste. Se não estava trabalhando, passava o tempo trancada no quarto”, diz.
Para fugir dessa solidão, Paola reproduzia tudo o que aprendia com a avó ou com as cozinheiras da televisão.
Aos 18 anos, conseguiu o primeiro emprego como secretária. Foi quando conheceu um chef argentino.
“Comecei sendo uma funcionária invisível e passei mais de dez como cozinheira invisível até chegar a um dia decisivo na minha carreira”.
Durante dez anos ela trabalhou em seis países diferentes até chegar ao Brasil, em 2001.
Na época, foi contratada pelo empresário Belarmino Filho para abrir e dirigir o restaurante Figueira Rubayat, no Jardim Paulista.
Depois de alguns anos, Paola estava pronta para tirar do papel o sonho de ter o próprio restaurante.
Mesmo sem falar bem português e sem conhecer quase ninguém, decidiu que investiria tudo o que tinha em um negócio no Brasil.
Os R$ 500 mil, que havia recebido de herança da mãe foram usados para tirar um visto de investidor e abrir o Júlia Cocina – um restaurante muito bem-sucedido, mas que não resistiu ao desgaste de uma sociedade mal sucedida.
“Por sorte, o pai do meu sócio decidiu comprar a minha parte”.
ARTURITO E OS SETE SÓCIOS
Paola teve de volta o valor que havia investido e, em menos de um mês, em vez de um, ela já tinha sete sócios –ótimas pessoas, de acordo com a chef, mas todos com ideias muito diferentes.
O desejo de levantar um restaurante acolhedor, com paredes brancas, hortas e com refeições com tempero caseiro acabou se transformando em uma espécie de boate.
Aberto em 2008, o Arturito tinha paredes escuras e um ambiente muito fechado. As mesas eram postas com louça importada e toalhas de linho. "Caríssimo e cafona", define a jurada do Masterchef.
Mas, por quatro anos, o projeto deu muito certo - a casa estava sempre cheia e as contas em dia.
Em 2012, as coisas começaram a mudar. O padrão do brasileiro já não era mais o mesmo e Paola percebia uma tendência diferente no mercado.
Os clientes já não estavam mais dispostos a pagar uma fortuna por um prato de frango, de acordo com a cozinheira.
O movimento começou a cair, as contas começaram a não fechar e Paola já estava no cheque especial.
Sem chegar a um acordo com os sócios, cuja maior preocupação era o faturamento, ela concluiu que seu trabalho era o bem mais valioso do Arturito.
“Havia acabado de completar 40 anos, tinha uma filha de dois anos, era sócia de um restaurante à beira da falência e completamente infeliz. Decidi arriscar”.
A VIRADA
Adicionou então, uma dívida muito maior, de R$ 2 milhões, contraída para comprar a participação de seus sócios no restaurante.
Foram meses de negociação até que Paola conseguisse se tornar a única proprietária do Arturito.
Além da responsabilidade de garantir os pagamentos de 40 funcionários, ela tinha como missão dar cara nova ao restaurante.
Era ela também quem tratava com contadores, advogados e fornecedores. Também checava a limpeza dos banheiros e resolvia até problemas de encanamento.
Virou uma espécie de polvo no restaurante e fez tudo o que era necessário para recompor a empresa. Mas tanta responsabilidade a afastou, justamente, do que sabia fazer melhor: comandar a cozinha.
"Os clientes sentiram a diferença no cardápio e sumiram da casa".
Decidiu então, que às sextas-feiras seria a chef, enquanto nos outros dias atuaria como empresária.
O novo menu começou a atrair executivos e, com isso, o Arturito começou a encher novamente de clientes, voltou a ser bem avaliado pelos críticos e também citado pelas revistas especializadas.
Em uma dessas sextas-feiras, a cozinheira ofereceu a empanada argentina como entrada, e foi um sucesso. O petisco entrou no menu fixo do Arturito, e serviu de inspiração para um novo negócio.
Durante meses, Paola testou novas massas, recheios e planejou o formato de um novo restaurante monotemático, o La Guapa, aberto em 2014, no Itaim Bibi, na zona sul de São Paulo.
Com parte da dívida milionária quitada, a cozinheira fez um novo empréstimo e, dessa vez, escolheu bem o sócio, Benny Goldenberg, também do ramo gastronômico.
O empresário também a ajuda com a administração do Arturito com uma participação de 15% no negócio.
Hoje, o Arturito está cheio de clientes e funcionários. O La Guapa, avalia ela, vale 40 vezes mais do que seu investimento inicial (R$ 60 mil). E todos os empréstimos que Carosella tomou foram pagos.
A virada que deu em sua carreira quando decidiu empreender foi o tema da palestra da estrela do Masterchef durante o Day1, evento organizado pela Endeavor.
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