Vendas do varejo paulistano recuam ao menor patamar desde 2009
Na avaliação da ACSP, a perspectiva é de que somente no final do ano desempenho no consumo será melhor. A inadimplência corresponde a 4,7% da carteira, patamar considerado sustentável
As vendas no varejo da cidade de São Paulo recuaram 3,9% no primeiro semestre do ano, o pior resultado para o período desde 2009, quando a queda foi de 6,5% em meio à crise financeira internacional. Os dados são do Balanço de Vendas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que já projeta queda nesse mesmo patamar para o final do ano.
Segundo Alencar Burti, presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), não há como vislumbrar, no curto prazo, mudanças no comportamento de consumo, que está reprimido pelos juros elevados, pela restrição do crédito, redução da massa salarial e a consequente queda da confiança do consumidor.
Mas Burti acredita que esse quadro deve começar a melhorar no final do ano ou início de 2016. “Se avaliarmos, dentro da perspectiva histórica, outros anos de crise econômica, como 1999, 2009 e 2003, é possível inferir que a recuperação virá”, diz o presidente da ACSP.
Para Emilio Alfieri, economista da ACSP, alguns fatores econômicos positivos começam a surgir. Embora a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) esteja elevada, em 8,8%, o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), que ajuda na projeção da inflação oficial, recuou fortemente nos últimos levantamentos, e encontra-se em 5,59% em 12 meses. “O que aparece no IPCA é mais o resultado do tarifaço”, diz Alfieri.
Segundo o economista, não há perspectivas de quebradeira entre o grande varejo, como ocorrido entre 1997 e 1999, em meio às crises da Rússia e da Ásia. Na ocasião, grandes redes, como Mappin e Mesbla fecharam as portas. “Há seis meses pela frente para o varejo se segurar, ficar de olho no caixa, mas não vamos ter quebradeira”, diz Alfieri.
Na avaliação do primeiro semestre, as vendas a prazo, normalmente as de maior valor, recuaram 3,4%. Já as vendas à vista caíram 4,4% no período. Como evidência do atual problema no varejo, dos seis primeiros meses de 2015, março foi o único a fechar com um movimento positivo em comparação com 2014.
INADIMPLÊNCIA
O Indicador de Registro de Inadimplentes (IRI), que mede o volume de carnês em atraso, mostrou uma queda de 8,2% no primeiro semestre. Esse número se justifica porque, com a conjuntura econômica mais negativa, há menos gente comprando e, consequentemente, menos gente se endividando.
A continuação desse efeito pode ser vista no Indicador de Recuperação de Crédito (IRC), que teve retração de 10,9% nos seis primeiros meses. Isso significa que há menos consumidores conseguindo renegociar ou liquidar suas dívidas vencidas.
“Enquanto houver desemprego alto, não adianta tentar renegociar as dívidas. O consumidor vai continuar jogando-as para frente e priorizando outras coisas. Ao mesmo tempo, embora a inadimplência esteja sob controle, é importante que as empresas se concentrem nas renegociações com categorias mais imunes ao desemprego, como aposentados e servidores públicos”, diz Burti.
A inadimplência medida pela ACSP corrresponde a 4,7% da carteira, o mesmo do primeiro semestre de 2014. Alfieri considera o percentual sustentável.
FLUXO
O primeiro semestre de 2015 fechou com queda de 7% no fluxo de pessoas em lojas de varejo ante o mesmo período de 2014. Também houve decréscimo de 8% no segundo trimestre deste ano se comparado ao ano anterior, fechando o período com redução de 2% em relação ao primeiro trimestre de 2015.
O apontamento é do ICV 30 (Índice de Consumidores do Varejo Mensal) divulgado pela SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo) em parceria com a Virtual Gate, empresa especializada no monitoramento de tráfego de pessoas em lojas.
O estudo mostra ainda fluxo médio em junho de 2015 0,7% menor que o registrado no mês anterior, voltando à curva decrescente após dois meses de alta. Já no comparativo com junho de 2014, houve queda de 7,4%. A análise de curva de fluxo por mês demonstra que 2015 permanece com a mesma flutuação registrada em 2014. A diferença entre junho de 2015 e 2014 foi a menor registrada desde março deste ano.