Para FMI, saída do Brasil da recessão será gradual
O PIB brasileiro deve crescer 0,5% em 2017 e 1,5% em 2018, de acordo com o Fundo Monetário Internacional
O Fundo Monetário Internacional (FMI) avalia que o Brasil está próximo de sair da recessão, mas prevê que a recuperação do país será gradual e a atividade econômica deve permanecer fraca por um período prolongado.
A conclusão faz parte do documento Artigo IV do Brasil, relatório anual sobre a situação econômica dos países-membros, que foi divulgado ontem (15/11) em Washington.
O FMI prevê expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil de 0,5% em 2017, mesma estimativa divulgada em outubro, na reunião anual da instituição.
Para 2018, a expectativa é de crescimento de 1,5%, subindo para 2% em 2019, e ficando nesse patamar nos períodos seguintes, até 2021.
"Os diretores do Fundo esperam que a atividade comece a se recuperar gradualmente, mas permaneça fraca por um período prolongado", de acordo com o documento.
Esse crescimento, ainda que modesto, vai depender da implementação do ajuste fiscal e de outras reformas econômicas, de acordo com um alto funcionário do FMI.
Pelo lado positivo, um avanço mais forte da agenda de medidas e reformas de Michel Temer pode ajudar a acelerar o PIB. "Nesse caso, a expansão pode ser mais rápida do que antecipamos."
Pelo lado negativo, o FMI alerta que riscos de piora do cenário pairam sobre o país. Um dos principais é uma nova piora da incerteza política, por causa do avanço das investigações da Operação Lava Jato, com delações envolvendo mais políticos em Brasília.
Outro risco vem do exterior, o de desaceleração mais forte da China e de um período prolongado de baixa expansão da economia mundial.
O FMI ressalta que a aprovação na Câmara da proposta de emenda constitucional que estabelece um teto para o crescimento dos gastos, além de outras reformas sinalizadas pelo governo, são positivas e já ajudaram a melhorar a confiança dos investidores e consumidores, mas é preciso mais.
Os diretores do Fundo recomendam uma reforma da Previdência ampla, que inclua todos os servidores públicos. "Há um problema de sustentabilidade da Previdência", disse um funcionário da instituição.
IMPOSTOS
O FMI fala ainda na possibilidade de o governo ter de aumentar impostos no futuro caso a arrecadação não melhore. Outra situação preocupante e que exige atenção do Planalto é a situação dos Estados, que estão endividados.
"Os resultados fiscais do Brasil têm sido decepcionantes", afirma o FMI. A instituição projeta que o país tenha este ano déficit primário de 2,7% do PIB, - 2,3% em 2017 - e só volte a ter superávit primário em 2020.
Para o Banco Central, a recomendação do FMI é que a política monetária permaneça apertada até que "progressos tangíveis" ocorram no ajuste fiscal.
A culpa pela forte recessão no Brasil em 2015 e 2016 foi basicamente de fatores internos, volta a afirmar o FMI.
Uma combinação de algumas políticas equivocadas e forte incerteza política tiveram papel essencial para enfraquecer a atividade, ressalta o relatório.
A inflação acima do teto da meta por período prolongado ajudou a minar a credibilidade no Banco Central.
"O BC precisa ser cauteloso", disse o funcionário do FMI ao falar do corte de juros, destacando que o crescimento da autonomia da instituição vai ajudar a reforçar a credibilidade da autoridade monetária.
EFEITO TRUMP
O governo brasileiro tem as ferramentas para lidar com o aumento da volatilidade no mercado financeiro causado pela surpresa da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.
A avaliação é de um alto funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O primeiro impacto sentido pelos mercados emergentes com a eleição de Trump foi o câmbio, e a moeda brasileira foi uma das mais afetadas, destaca o FMI. Na segunda-feira, o câmbio fechou em R$ 3,44, maior patamar desde junho.
"As autoridades brasileiras têm as ferramentas para lidar com a volatilidade que estamos vendo agora", afirmou o porta-voz do FMI.
Ele lembrou que em outros momentos de nervosismo no mercado internacional, como em 2013, quando o Fed (Banco Central dos Estados Unidos) sinalizou que mudaria a política monetária, o Brasil conseguiu, por meio da taxa de câmbio flexível e das reservas internacionais, lidar com o choque externo.
O FMI também citou os leilões de swap cambial como ferramenta importante à época. Na semana passada, o BC também realizou um leilão de swap cambial para acalmar o mercado - o que o FMI avaliou como positivo.
Além disso, ele disse que o Brasil não é muito exposto em termos comerciais aos EUA, mas que, ainda assim, é preciso esperar as políticas para avaliar impactos mais concretos.
O FMI divulgou nesta terça relatório "Artigo IV" sobre o Brasil, que foi concluído antes do resultado das eleições, em outubro. Dentre as considerações do estudo, o FMI ressalta que as reservas do país estão acima do adequado, mas devem ser preservadas.
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