Inflação do aluguel sobe 0,67% em junho
Com alta pontual no mês, a estimativa da FGV é de variação de cerca de 0,50% em julho. Em 12 meses, o índice chega a 5,59%
O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) acelerou de 0,41% em maio para 0,67% em junho - puxado pela alta de preços de serviços de construção, transportes, alimentos e jogos lotéricos.
O índice, muito utilizado como parâmetro para reajuste de contratos de aluguel, acumula 4,33% em 2015. Em 12 meses até junho, o IGP-M subiu 5,59%, ainda abaixo da inflação oficial medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que está em 8,47% em 12 meses até maio.
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A estimativa é que o IGP-M volte a desacelerar em julho e chegue a uma taxa média de 0,50% no fechamento do mês que vem, segundo André Braz, economista do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas).
Mesmo com a pressão de alimentos in natura sobre o indicador, ele acredita que a sazonalidade favorável para os meses de maio e julho - e que ainda não ocorreu - possa refletir sobre os preços e permitir uma inflação menor ante junho.
Ainda assim, o IGP-M deve ter um resultado superior à deflação de 0,61% apurada em julho de 2014.Já a taxa acumulada em 12 meses, disse, deve continuar avançando, seguindo o IPC.
Em 12 meses terminados em junho, o IGP-M atingiu 5,59%, enquanto o IPC ficou em 8,84%. "Está abaixo do IPC, mas deve seguir avançando", estimou.
O IGP-M é composto por três outros índices: IPC (Índice de Preços ao Consumidor), IPA (Índice de Preços ao Produto Amplo) e INCC (Índice Nacional de Custo da Construção).
No IGP-M de junho, o IPC acelerou para 0,83%, após 0,68% em maio, principalmente por causa da pressão dos preços de frutas (de -5,24% para -2,31%), ovos (-1,20% para alta de 0,84%) e carnes bovinas (de 1,11% para 2,07%).
Além da expectativa de preços de alimentos mais comportados, os efeitos do aumento promovido em maio em jogos lotéricos devem se dissipar em julho.
Segundo Braz, a alta de preços de jogos lotéricos de 49,37% em junho ajudou a impulsionar o IPC para 0,83% (de 0,68%) no IGP-M, assim como o grupo Alimentação (de 0,67% para 0,98%).
"Pressionou, mesmo por se tratar de um item que tem pouco peso. No entanto, um aumento de quase 50% não é nada desprezível. Acaba comprometendo 0,30% do orçamento familiar, ou seja, tem o mesmo peso que o arroz. A alta forte em loterias foi o pico. Deve desacelerar daqui para frente, quem sabe a taxa tende a zerar", diz.
Outra influência veio das altas de preços da cebola (de 19,06% para 36,33%), taxa de água e esgoto residencial (0,54% para 3,31%), condomínio residencial (de 0,74% para 1,32%) e refeições em bares e restaurantes (de 1,04% para 0,45%).
O grupo Transportes (que subiu de 0,14% para 0,28%) avançou principalmente por causa do preço da gasolina (que passou de -0,61% para 0,30%).
Outro indicador que faz parte do IGP-M é o INCC, que saiu de 0,45% em maio para 1,87% em junho. O que puxou essa aceleração foi o grupo relativo a Mão de Obra, que teve variação de 3,16%, ante 0,24% em maio. Já Materiais, Equipamentos e Serviços foi para 0,47% ante 0,67% no mês anterior.
Na passagem de maio para junho houve aumento nos preços de serviços de ajudante especializado (de 0,30% para 2,88%), servente (0,25% para 3,30%), carpinteiro (0,12% para 3,38%), pedreiro (0,29% para 3,13%) e engenheiro (0,09% para 3,41%).
"Já imaginávamos que o INCC teria papel fundamental. De forma inédita, ocupou espaço importante, por causa dos dissídios da construção", disse, ao referir-se a aumentos de salários feitos recentemente em locais como São Paulo e Rio de Janeiro, mas que demoraram para acontecer e acabaram refletindo só agora sobre o IGP-M.
IPA: PRESSÃO DE ALIMENTOS
O economista, porém, ressaltou que a desaceleração do ritmo de queda nos preços da soja (que passou de -4,07% para -0,44%) e a mudança de sinal dos alimentos in natura (de queda de 2,62% para elevação de 1,80% em junho) também pressionaram o IPA Agropecuário, que saiu de -1,51% para -0,23% este mês, e, consequentemente influenciou o IGP-M do período.
Segundo ele, no geral, as altas refletem aumento de custos com água, energia, mão de obra e redução de área. Além disso, completou, o movimento deve impactar os preços no varejo, já que não são produtos bastantes demandados pelos consumidores.
"Preocupa, pois parece que essas altas não serão dissipadas em 2015. Daqui a pouco, o inverno acaba e a temperatura tende a subir, dificultando ainda mais os custos dos produtores. A janela para devolução está ficando cada vez mais curta", afirma.
Segundo o economista do Ibre/FGV, enquanto os alimentos in natura estão tendo comportamento considerados atípicos para o período, quando se espera taxas mais brandas, os grãos como a soja estão reagindo a perspectivas menores para a safra no Brasil e também no exterior.
"A queda da soja vem de um certo pessimismo de que a colheita não será tão boa quanto o esperado. Como soja pesa bastante, acaba influenciando o IPA", afirma.
Além da soja, outras matérias-primas como as aves (de -3,60% para alta de 0,98%) ajudaram o IPA (de 0,30% para 0,41%) a acelerar de maio para junho. Ele citou especialmente a pressão em relação aos preços do frango, que têm alta acumulada de 2,98% em 12 meses finalizado em junho.
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