De onde virá a recuperação econômica?
Não poderá vir majoritariamente do consumo, pois o elevado desemprego, o alto grau de endividamento e a contração do crédito impedirão um rápido aumento das compras
O ano de 2016 seguramente passará à história como um dos piores anos para a atividade econômica brasileira. As quedas nas vendas do varejo e no volume comercializado de serviços alcançaram recordes históricos, enquanto o desemprego também avançou para patamares inéditos, afetando a quase 12 milhões de pessoas.
A grande pergunta que se pode fazer atualmente é onde poderia estar o “motor” de recuperação da economia brasileira ao longo do presente ano?
Diferentemente de outros períodos, este não poderá vir majoritariamente do consumo, pois o elevado desemprego, o alto grau de endividamento e a contração do crédito impedirão um rápido aumento das compras.
Contudo, a injeção de quase R$ 35 bilhões proveniente do saque das contas inativas do FGTS e a continuidade da redução dos juros deverão, por um lado, impactar o consumo, e, por outro, permitir a redução de dívidas das famílias.
Como a liberação dos recursos se dará ao longo dos primeiros sete meses do ano, esses impactos positivos se distribuirão ao longo dos próximos meses.
Tampouco será possível contar com um vigoroso crescimento do investimento produtivo, posto que as empresas, principalmente no setor industrial, operam atualmente com alta ociosidade, que deverá diminuir gradativamente com a recuperação da atividade econômica. Entretanto, existem boas perspectivas para o investimento em infraestrutura, num contexto de grande liquidez mundial e melhora da percepção externa sobre o futuro da economia brasileira, ainda que sua materialização não seja imediata.
A recuperação dos preços internacionais de commodities importantes, como o minério de ferro, poderá ajudar na recuperação da atividade industrial, e principalmente nas exportações, que também se veriam beneficiadas pela maior safra agrícola projetada.
Todo esse processo opera, por natureza, de forma gradual. Esse aumento da oferta de produtos agrícolas, que contribuirá para diminuir os preços dos alimentos, conjuntamente com a tendência de redução da taxa de câmbio possibilitarão um recuo mais rápido ainda na inflação, o que além de significar aumento no poder aquisitivo dos consumidores, mantém as condições para a continuidade da redução de juros por parte do Banco Central.
O menor custo do crédito permitirá que famílias e empresas renegociem suas dívidas. Tudo isto deverá contribuir para a retomada do consumo e da produção, porém de forma gradativa, dado o nível ainda baixo da confiança de consumidores empresários.
Apesar de que, por todos esses fatores mencionados anteriormente, é possível vislumbrar a recuperação da atividade econômica brasileira, esta deverá ser lenta, ganhando força a partir do segundo semestre do ano.
A manutenção da política econômica na direção certa, principalmente em termos do ajuste fiscal e das reformas estruturais, contribuirá para consolidar uma retomada efetiva do crescimento durante os próximos anos.
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