Brasil é o emergente com maior risco de rebaixamento
A possibilidade de o Brasil perder o selo de bom pagador faz ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pedir apoio dos parlamentares
A mudança na perspectiva do rating brasileiro para "negativa" pela Standard & Poors aumentou a aposta entre analistas estrangeiros de que o Brasil pode ser o primeiro entre os principais países emergentes a perder a classificação de grau de investimento nos próximos dois anos.
Além do Brasil, analistas dizem que estão na berlinda África do Sul, Indonésia e Turquia. A Rússia já perdeu o selo de bom pagador. Economistas estrangeiros dizem que a situação do Brasil é mais delicada.
Na terça-feira (28/07), Lisa Schineller, a analista da S&P responsável pelo Brasil, foi questionada durante teleconferência por analistas de bancos internacionais sobre como avalia a situação da economia brasileira comparada à de outros emergentes.
Lisa disse que o Brasil tem apresentado nos últimos anos uma dinâmica pior de crescimento que seus pares e o desempenho da atividade econômica é um fator avaliado de perto pelas agências de classificação de risco.
Além disso, as contas externas ainda estão ruins e o Brasil tem de lidar com os reflexos das investigações de corrupção na Petrobras, que vêm afetando o setor privado, o ambiente político e a atividade econômica.
Como ponto positivo, na comparação com outros países emergentes, a analista destaca que o Brasil tem reservas internacionais robustas.
LEIA MAIS: Morgan Stanley rebaixa recomendação do Brasil
O PIOR ENTRE OS EMERGENTES
Uma pesquisa do Bank of America Merrill Lynch, que ouviu gestores em todo mundo que investem em países emergentes, aponta o Brasil como o emergente mais provável de perder o grau de investimento, na comparação com África do Sul, Turquia e Indonésia: 65% dos investidores ouvidos acreditam que isso pode ocorrer nos próximos dois anos.
A possibilidade de o Brasil perder o selo de bom pagador e ser classificado como "especulativo" nos mercados "continua a ser um risco de curto prazo", avaliou a Roubini Global Economics, consultoria do economista Nouriel Roubini - que ficou famoso por prever a crise financeira de 2008.
A consultoria explica que a recessão brasileira está se aprofundando e, apesar disso, a inflação continua em trajetória de alta. Concluído antes da revisão da meta fiscal, o relatório destaca que os cortes de gastos do governo tendem a aprofundar o quadro recessivo e a alta dos juros para conter os preços torna cada vez menos provável o aumento do investimento privado.
LEIA MAIS: Focus traz inflação a 9,23% e Selic a 14,25% em 2015
LEVY TENTA ACALMAR INVESTIDORES
Depois do anúncio da revisão pela Standard & Poors, a preocupação do governo agora é com o risco de as agências Fitch e Moodys seguirem o mesmo caminho.
Em conversas na terça-feira com investidores estrangeiros para tranquilizar o mercado, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reafirmou o compromisso do governo com o controle de gastos e da trajetória da relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB).
A avaliação que ganhou força no governo foi a de que a decisão da S&P pode fazer o Congresso "acordar" e aprovar as reformas necessárias o mais rápido possível.
Levy reforçou nos contatos com os investidores a necessidade de apoio dos parlamentares às medidas de ajuste fiscal e de estímulo ao crescimento.
O papel do congresso para evitar o risco de perda do grau de investimento ficou mais em evidência, diante do relatório da S&P que apontou preocupações com as turbulências políticas no país.
*Foto: Agência Brasil