"Sistema político do Brasil precisa se comprometer com ajuste fiscal"
A avaliação é do Fundo Monetário Internacional (FMI), que defende um ajuste equilibrado, que não seja tão forte a ponto de impedir a recuperação da economia
O sistema político do Brasil terá de demonstrar que está comprometido com o ajuste fiscal, que terá de ser mais forte que o realizado em outros países da América Latina, avaliou na manhã desta quinta-feira (08/09) Alejandro Werner, diretor para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Segundo ele, todos os países da região possuem situações fiscais piores do que deveriam, porque o "mundo mudou" e não porque tenham expandido os gastos de maneira artificial.
A questão, observou, é a velocidade com que terão de realizar o ajuste.
Os países que possuem baixo nível de endividamento poderão buscar o equilíbrio de maneira gradual.
Mas outros, entre os quais o Brasil, terão de implementar um programa econômico-fiscal "mais forte", afirmou Werner no seminário anual do Banco de Desenvolvimento da América Latina (conhecido pela sigla CAF), em Washington.
Augusto de la Torre, economista-chefe para América Latina do Banco Mundial, defendeu que o Brasil faça o ajuste fiscal de maneira gradual, para evitar que ele provoque um impacto negativo sobre a recuperação do crescimento.
"Se o ajuste fiscal for demasiado forte, ele pode interromper a recuperação econômica", disse Torre.
"É necessário equilíbrio entre deixar que a economia comece a respirar de novo e, ao mesmo tempo, dar-lhe uma trajetória fiscal mais estável. Acredito que obter esse equilíbrio é o desafio para os políticos."
Apesar de defender o ajuste gradual, Torre afirmou que o equilíbrio das contas públicas é necessário para que o crescimento econômico tenha base sólida.
Segundo ele, os brasileiros "gostariam de não fazer o ajuste, até porque têm uma situação fiscal mal resolvida".
Mas o Brasil é um dos países da região com menor margem de manobra fiscal, o que torna o ajuste inevitável, concluiu.
AL TERÁ DE CONSTRUIR BASES PARA O CRESCIMENTO
A América Latina continuará a ter crescimento medíocre pelos próximos quatro a cinco anos e terá de usar esse período para fazer ajustes e encontrar novos motores de expansão econômica.
Com a perda de fôlego da demanda doméstica, a região terá de apostar na integração comercial e na busca de nichos para seus produtos no mercado externo.
O diagnóstico foi feito por economistas reunidos no seminário anual do Banco de Desenvolvimento da América Latina, realizado em Washington.
Alejandro Werner, diretor para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), disse que a região terá de construir as bases para um crescimento mais robusto no médio prazo, as quais abrangem infraestrutura, educação e fortalecimento do Estado de Direito.
"O trabalho de agora é para o período posterior aos próximos cinco anos."
Na opinião de Augusto de la Torre, economista-chefe para América Latina do Banco Mundial, o desenvolvimento futuro da região será diferente dos últimos 15 anos, durante os quais os mercados domésticos puxaram o crescimento.
O cenário mudou com a queda nos preços das commodities, que reduziram as receitas e os termos de troca dos países da região. "No futuro, os mercados domésticos não serão suficientes para garantir um crescimento alto."
Torre acredita que a maior integração econômico-comercial da América Latina é o caminho para impulsionar o crescimento. O desafio será encontrar "nichos" para os produtos da região em uma economia global que se expande a um ritmo mais baixo.
A redução da desigualdade também poderá funcionar como um motor de crescimento da região, avaliou a Alicia Bárcena, secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Segundo ela, há um estancamento do processo de redução da pobreza experimentado nos últimos anos, quando o porcentual da população que vive abaixo da linha da pobreza caiu de 42% para 28%. No ano passado, o indicador teve um pequeno aumento de um ponto porcentual.
Bárcena observou que ainda há 167 milhões de pobres na América Latina, dos quais 70 milhões vivem na extrema pobreza. Em sua opinião, é preciso crescer para reduzir a pobreza, o que pode gerar mais crescimento.
"Reduzir a pobreza representa um enorme motor para o crescimento futuro."
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