PT e Lula alimentam clima de alta tensão
Plano petista é estigmatizar juiz Sérgio Moro e colocar ex-presidente como vítima da Lava Jato
A eletricidade política raramente esteve tão tensa desde a última sexta-feira (04/03), quando o ex-presidente Lula, sob condução coercitiva, foi obrigado a depor por três horas à Polícia Federal.
Neste domingo (06/03), plantão no STF do ministro Teori Zavascki, seis de seus pares o encontraram em reunião extraordinária e informal para tomar decisões de conteúdo não anunciado.
A mais plausível é que discutiram a homologação da delação premiada do ex-líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, documento de 400 páginas, em parte revelado na quinta-feira pela revista Isto É.
As acusações que ele fez deverão desencadear novas linhas de investigação da operação Lava Jato, novas apreensões e depoimentos.
O temor que correu dentro e fora de Brasília era a iminência de uma nova etapa da operação, desta vez atingindo suspeitos com foro privilegiado (mandato eletivo).
Policiais estariam mobilizados na capital federal, São Paulo, Rio, Alagoas, Piauí e Bahia. Os boatos eram tão intensos que o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) rumou inesperadamente para seu Estado, supostamente para não ser preso em Brasília.
Não se sabe se a operação foi abortada ou se será desencadeada ainda durante a semana.
Ao mesmo tempo, o próprio Lula – uma caixa inesgotável de surpresas – teve seu currículo enriquecido nesta segunda-feira (07/03), com a revelação, pelo jornal O Estado de S. Paulo, de que parte do duplex onde ele mora, em São Bernardo do Campo (SP), pertence, no papel, a um primo do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente e preso desde novembro.
Lula é dono do apartamento 122 do edifício Hill House. Mas também ocupa o de número 121 desde 2003. Este segundo imóvel está em nome do aposentado Glaucos da Costa Marques, que disse tê-lo comprado por recomendação do advogado Roberto Teixeira, também amigo do ex-presidente, que nos anos 1990 emprestara a ele uma casa confortável em que ele morou com a família em São Bernardo.
A suspeita é de que Lula é o proprietário verdadeiro deste segundo apartamento, o que caracterizaria ocultação de patrimônio. O mesmo crime fiscal praticado com relação ao tríplex do Guarujá e ao sítio de Atibaia, dois municípios paulistas.
O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, declarou que Lula realmente utiliza o imóvel de Glaucos, mas que para tanto paga um aluguel. A oposição no Congresso pediu que o pagamento do aluguel seja comprovado.
O ex-presidente também voltou mais uma vez à berlinda domingo, quando o delegado da Polícia Federal Luciano Flores de Lima divulgou o relatório sobre o interrogatório de sexta.
Segundo ele, Lula já o esperava às 5h30 da manhã e disse que deixaria o apartamento para depor “só algemado”. Mudou de ideia depois de conversar com um de seus advogados.
Essa resistência desmente a versão dada pelo próprio Lula, em comício na sede nacional do Partido dos Trabalhadores, de que a coerção foi abusiva porque ele, se convocado, não hesitaria em prestar depoimento.
Em verdade, ele já se esquivara em duas ocasiões, quando convocado pelo promotor Cássio Conserino a esclarecer a propriedade do tríplex do Guarujá.
Numa primeira oportunidade, os advogados de Lula obtiveram liminar por suspeição de parcialidade do promotor no Conselho Superior do Ministério Público. Mas a liminar foi derrubada.
Em seguida, Lula afirmou que “não iria depor” e seus advogados, para não caracterizar insubordinação, interpelaram o STF em nome da existência de duas investigações paralelas sobre a mesma questão: do MP paulista e da Lava Jato.
Mas já na sexta-feira a liminar foi negada pela ministra Rosa Weber. Ela também negou o pedido para que as investigações fossem interrompidas.
Um outro capítulo do complicado episódio envolvendo o ex-presidente está no apelo que ele e seus partidários lançaram para que se promovam, em solidariedade a ele, manifestações de amplitude nacional.
É uma maneira de caracterizá-lo como vítima das supostas arbitrariedades do juiz Sérgio Moro.
A ideia, já esboçada com êxito, procura reunificar o PT e trazer para a defesa de Lula a presidente Dilma Rousseff, que efetivamente esteve em São Bernardo no sábado para solidarizar-se com ele.
Mas, como desdobramento desse cenário, a dimensão inevitável seria a de conflagrar o país politicamente, com o acirramento do clima bélico entre partidários e adversários de Lula e do impeachment de Dilma.
É o que já está acontecendo. Confrontos físicos entre os dois grupos já ocorreram em Sorocaba (SP), São Bernardo e São Paulo.
O plano dos petistas é, em nome de uma demonstração de força, instalar no país um clima de guerra, que afetaria o projeto dos partidários do impeachment de promover grandes manifestações no próximo domingo (13/03).
O governo monitorou nas redes sociais uma mobilização excepcional para esses protestos. Mas setores do PT anunciaram que poderão também se manifestar no mesmo dia e no mesmo local em São Paulo, a avenida Paulista.
O confronto físico seria inevitável. Para o PT, seguindo o mesmo raciocínio, o roteiro mais conveniente estaria na produção de um primeiro cadáver. A paralização do país nesse hipotético funeral quebraria, na opinião pública, a espinha do roteiro do impeachment.
É aqui que entra uma importantíssima informação, dada pelo blogueiro de O Globo Ricardo Noblat e em seguida pelo site de oposição O Antagonista. É algo confirmado pelo Diário do Comércio e que reverberou de imediato nas redes sociais.
O Alto Comando do Exército alertou a presidente Dilma para o fato de as Forças Armadas, mesmo de fora da disputa política, poderem intervir para conter – tarefa prevista pela Constituição - qualquer risco de convulsão social.
O mesmo recado foi transmitido a governadores, entre eles o de São Paulo.
Trocando tudo isso em miúdos: o clima está tenso e envenenado. Basta uma fagulha para provocar explosões de intensidade imprevisível.
FOTO: Agência Brasil