Por 38 a 27 votos, comissão dá sinal verde ao impeachment de Dilma
Governo esperava obter mais de 30 votos. Derrota antecipa grande dificuldade para o PT na votação em plenário no domingo (17/04)
A comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou nesta segunda-feira (11/04), por 38 votos a 27, o relatório que recomenda o impeachment de Dilma Rousseff. A diferença de 11 votos numa comissão de 65 deputados foi bem maior que a esperada pelo Planalto.
A votação, encerrada às 20h38, depois de uma sessão de mais de dez horas, foi a penúltima etapa, entre os deputados, do processo que poderá afastar a presidente. Com o resultado, a questão será decidida pelo plenário da Câmara, provavelmente no domingo (17/04). Caso dois terços dos 513 deputados também votem em favor do impeachment, começa a tramitação do processo no Senado.
Entre os senadores, basta maioria simples dos 81 integrantes daquela Casa para que a presidente seja afastada do Executivo por um prazo de 180 dias. Mas se o processo chegar a esse ponto ela dificilmente conseguirá reverter a tendência ao afastamento.
Em 1992, o então presidente Fernando Collor renunciou tão logo a Câmara votou pelo impeachment, sendo substituído pelo vice-presidente Itamar Franco.
O resultado da votação na comissão da Câmara foi o desfecho de um dia congestionado de surpresas.
Para o governo, surpresas negativas. O PSB, que há meses se definia como oposição e não integrava a base aliada, decidiu fechar questão em favor do impeachment. A liderança do partido anuniou que substituiria por algum suplente o deputado que anunciasse a intenção de votar, no domingo, em favor da presidente.
No PP - o partido do deputado Paulo Maluf (SP) - a debandada não é mais uma soma de casos isolados. Os diretórios de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná se declararam em favor do impeachment. O PP é o partido para o o qual Dilma se disse disposta a entregar o Ministério da Saúde.
Por fim, o PR, que tem 40 deputados, sofreu nesta segunda-feira uma defecção altamente simbólica. O líder da bancada, Maurício Quintella, demitiu-se e disse que votará contra a presidente. Também afirmou que essa é a posição de 25 dos seus colegas de partido.
O mercado também continuou a apostar na queda de Dilma. O dólar se desvalorizou em 2,83% e fechou abaixo de R$ 3,50 pela primeira vez desde agosto de 2015. O índice Bovespa fechou em pequena baixa de 0,25%.
Com a possibilidade de vencer na comissão praticamente afastada, a derrota era desde o início da tarde admitido pela própria bancada petista - foi o caso de Paulo Teixeira (SP). E as projeções sobre a votação de domingo tampouco eram favoráveis ao governo.
Com base no levantamento diário de O Estado de S. Paulo, um especialista em estatística, consultado por aquele jornal, calculou que o impeachment seria aprovado por um resultado de no mínimo 357 votos e de no máximo 375.
Bastariam, pela Constituição, 342 votos. Segundo o jornal, nesta segunda-feira à noite, o impeachment já teria 295 votos de deputados, 61 a mais que o anunciado na última terça-feira (05/04). Com isso, não eram mais levadas a sério as "confidências" do Planalto, segundo as quais o governo teria 200 votos para barrar o afastamento de Dilma.
No jornal O Globo, o blogueiro Ricardo Noblat informou no final da tarde que o Planalto havia aumentado entre sexta e segunda-feira o valor das emendas para obras ou serviços oficiais na área de interesse do parlamentar.
Emendas para deputados que estavam indecisos ou mudaram de ideia passaram a receber R$ 2 milhões, em lugar de R$ 1 milhão, na sexta. Para quem se comprometesse a se ausentar do plenário, o prêmio subiu de R$ 400 mil para R$ 1 milhão.
VAZAMENTO DE TEMER
Por fim, o dia foi marcado pelo vazamento - não se sabe se voluntário ou não - de um áudio em que o vice-presidente Michel Temer se assumia abertamente como novo presidente da República, aparentemente redigido para depois da derrota de Dilma no domingo.
O texto foi divulgado por engano, disseram assessores de Temer. Mas para Henrique Fontana, vice-líder do PT na Câmara, a divulgação foi proposital. Ricardo Berzoini, ministro da Secretaria de Governo, se disse no twiter "estupefato".
Temer declarou em entrevista coletiva que cometeu um engano, mas que não disse nada de inédito.
Nos 15 minutos da gravação, ele afirma que o país atravessa momento delicado e apela para um governo de união em torno de ideias básicas que valorizem as forças produtivas e não apenas o Estado.
Disse também que não pretende pôr fim aos programas sociais, como o Bolsa Família, o Pronatec e o Fies (bolsas para o ensino superior). Afirmou, ainda, que o ideal seria atingir um padrão de geração de empregos que dispensasse mecanismos como o Bolsa Família.
FOTO: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo