Para se defender, Lula dá o troco e acusa pesadamente Palocci
Interrogado pela segunda vez por Sérgio Moro, e em resposta ao ex-ministro da Fazenda, que o acusou de ter feito um "pacto de sangue" de R$ 300 milhões com a Odebrecht, ex-presidente qualificou o ex-amigo de "frio, calculista e simulador"
Luís Inácio Lula da Silva prestou nesta quarta-feira (13/09) um segundo depoimento ao juiz Sérgio Moro, e afirmou que seu ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, é um homem "frio, calculista e simulador".
O juiz da Lava Jato quis saber qual a reação do ex-presidente quanto às revelações feitas na semana anterior por Palocci, que está preso em Curitiba, mas que ainda não fechou negociação para delação premiada.
O ex-ministro, que também chefiou a Casa Civil de Dilma Rousseff, disse a Moro que Lula e Emílio Odebrecht fizeram no final de 2010 um "pacto de sangue", para que o então presidente e sua sucessora recebessem R$ 300 milhões "em propina" para as campanhas do Partido dos Trabalhadores.
O depoimento de Palocci deixou Lula desarmado e inutilizou um dos argumentos dele, de que era vítima dos procuradores que atuam na Lava Jato, num complô do qual também participariam a mídia e setores da sociedade "descontentes" com as políticas sociais do PT.
Com a fala do ex-ministro, as acusações contra Lula partiam de alguém de sua máxima intimidade. Palocci foi o coordenador da campanha presidencial de 2002, na qual Lula se elegeu pela primeira vez.
Nas redes sociais, simpatizantes petistas insistem que Palocci está sendo submetido a fortes pressões para delatar, com o objetivo de passar menos tempo na prisão. Ele já foi condenado por Moro a 12 anos.
Foi justamente também esse o argumento que Lula utilizou no depoimento a Sérgio Moro. Qualificou Palocci de mentiroso e disse que ele estava apenas interessado em passar menos tempo na cadeia.
Um dos dirigentes do partido que acompanhava Lula a Curitiba, nesta quarta, chegou a afirmar que Palocci "tem sido torturado", afirmação que não encontra a mínima evidência.
DEPOIMENTO DE MAIS DE DUAS HORAS
O depoimento de Lula durou duas horas e dez minutos, bem menos que as cinco horas da sessão em que foi arguido em maio pela Justiça Federal do Paraná.
Mesmo antes que a gravação da audiência fosse divulgada, assessores do ex-presidente acreditavam que, desta vez, a menor duração se justificava pelo desejo de Lula de não responder a todas as questões que lhe foram feitas. Seria um plano para não se deixar incriminar.
O juiz Moro já condenou Lula a nove anos e meio de prisão, no processo sobre o triplex do Guarujá, que o ex-presidente teria recebido como suborno da construtora OAS.
No processo que está sendo agora instruído, o ex-presidente é acusado pela Odebrecht – em informações que Palocci confirmou – de ter recebido um terreno de R$ 12 milhões, em 2010, para a instalação da sede do Instituto Lula.
O terreno, no bairro paulistano de Vila Mariana, não chegou a abrigar o instituto, e o valor da compra, segundo Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira e preso desde junho de 2015, foi depositado numa conta reservada a Lula, no departamento de propina da empresa.
No mesmo processo, que ainda não foi julgado, o ex-presidente é acusado de ter recebido da Odebrecht um apartamento ao lado daquele em que ele mora, em São Bernardo do Campo (SP).
A versão inicial de sua defesa era de que o imóvel havia sido alugado ao ex-presidente por um primo do pecuarista José Carlos Bumlai.
No depoimento desta quarta, no entanto, Lula afirmou que o aluguel do apartamento vizinho ao seu era uma questão administrada por Marisa Letícia, sua mulher, que morreu em fevereiro passado.
Lula ainda disse não se lembrar de Glaucos Costamarques, o primo de Bumlai, do qual sua defesa não apresentou nenhum recibo de aluguel.
O imóvel é usado para armazenar parte do acervo que Lula trouxe de Brasília, ao fim de seu mandato de presidente, em janeiro de 2011.
Sergio Moro interpelou o ex-presidente sobre a ausência de recibos. Em resposta, o ex-presidente atacou o Ministério Público.
Disse que o MP "é engraçado".
"Graças a Deus estamos vendo o que está acontecendo com Janot (Rodrigo Janot, procurador-geral), com Miller (o ex-procurador Marcello Miller, que assessorou a JBS) e a força tarefa da Lava Jato", a seu ver interessada em produzir "inverdades".
No final do depoimento, o ex-presidente acusou a Lava Jato de se comportar “como refém da imprensa”, e estar interessada em selecionar delatores que estivessem com a disposição de criminalizá-lo.
APOIADORES EM CURITIBA
A quantidade de militantes reunida pelo PT em Curitiba foi desta vez menor que a verificada quando do depoimento de maio.
Foram 1,7 mil, segundo a PM paranaense, que ouviram o ex-presidente em ato público na praça Generoso Marques, no centro da cidade.
Em razão da votação da reforma política em Brasília, também foi abandonado o plano de fazer com que Lula fosse ao Paraná cercado por deputados e senadores do partido.
A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, que é curitibana, declarou, antes do depoimento, que Lula estava disposto a exprimir sua “indignação” com o processo.
Outro simpatizante de peso, o presidente da CUT, Vagner Freitas, acusou a Lava Lato pelo desemprego. Afirmou que, para cada prisão operada pela operação, “22 mil trabalhadores” ingressavam na fila dos desempregados. Essa quantificação inédita na história econômica brasileira, não encontra nenhum estudo sério para justificá-la.
Adversários do PT também promoveram manifestação. Um grupo conseguiu se aproximar do prédio da Justiça Federal quando Lula deixava o local, e usou palavras de baixo calão para agredi-lo verbalmente.
Assista ao depoimento na integra
FOTO: Vídeo do Depoimento - Youtube