Empresários, já escaldados, apenas suportam Temer e já pensam em 2018
Lava Jato e delação de Joesley apressaram desencanto com o Planalto, que não consegue aprovar a Reforma da Previdência. Mas, na falta de correntes contra as quais se contrapor, o que resta é alguma esperança nas eleições presidenciais
O governo de Michel Temer enfrenta sucessivas crises internas. Mas – paradoxalmente – não há uma movimentação empresarial para auxiliá-lo ou apressar algum desfecho.
Não foi o que aconteceu entre abril e maio de 2016, quando o fragilizado governo de Dilma Rousseff mergulhou de forma irreversível no impeachment, com o apoio explícito de toda a sociedade – excetuados os petistas e entidades a eles ligadas.
Entre os dois cenários, o de agora e o de há 16 meses, há uma diferença fundamental. No ano passado, a opção mobilizadora cabia numa dicotomia. Caindo Dilma, entraria um governo favorável ao mercado.
A dicotomia deixou hoje de existir. A “Ponte para o Futuro” de Temer e do PMDB, apesar do apodrecimento precoce provocado pelas denúncias de corrupção, é o único artefato ideológico que permite a travessia mais ou menos segura até as eleições de 2018.
Isso não significa inconsciência e passividade. Pesquisa feita com 85 empresários pela consultora Betânia Tanure, publicada pelo Valor Econômico (14/08), revela que eles acreditam não exercer poder de influência para ajudar na transformação do país.
Se é previsível que priorizem a Reforma da Previdência (96%) e a reforma política (89%), eles tambem acreditam que poderiam se engajar a si mesmos e convencer outras lideranças empresariais a fazer o mesmo (26%), ou então formular propostas coletivas que fossem levadas em conta em Brasília (24%).
O fato é que "os executivos e empresários têm sido omisssos no processo político dos últimos anos", disse Walter Schalka, presidente do grupo Suzano. Para ele, "não existe uma participação efetiva, uma união ou um alinhamento entre o mundo empresarial para que se faça um projeto político para o Brasil".
Mas recuemos ao ano passado. Por mais que individualmente empresários se incomodassem com a irresponsabilidade fiscal do governo anterior, as entidades que os representam assumiram uma postura mais cautelosa.
Sabiam que o impeachment supunha marolas que agitariam um quadro já fragilizado pela recessão. É por isso que essas entidades se mobilizaram apenas nos seis meses de reta final.
E o fizeram de maneira sensata, com constantes apelos ao respeito à Constituição – como efetivamente aconteceu.
Naquele período, a oposição ao PT também trazia um forte componente ético. A Lava Jato, já desencadeada em Curitiba, cercava o partido de Dilma e seus mais próximos aliados (PP e PMDB), acusados de sangrarem a Petrobras.
Era uma sangria com a impressão digital petista, mesmo porque aquele partido controlava o Executivo havia 13 anos e, pelo visto, não havia aprendido a lição que o Judiciário lhe deu com o Mensalão (2005).
A equipe que substituiria a da ex-presidente apresentava alguns riscos que foram de início demonstrados pela queda de Romero Jucá do Ministério do Planejamento, num processo que seguiu, entre outros, com Henrique Eduardo Alves (preso em Natal) e Geddel Vieira Lima (em prisão domiciliar, em Salvador).
A PAUTA DAS REFORMAS
Ocorre, no entanto, que, apesar de bichado por dentro, o Executivo demonstrava, pelo lado de fora, a energia necessária para desencadear uma pauta ambiciosa de reformas.
A do ensino secundário foi acompanhada pelo regime de partilha no pré-sal, pela Lei da Terceirização. pela PEC do teto dos gastos ou pela Reforma Trabalhista. A joia da coroa seria a Reforma da Previdência.
Mas eis que, em 17 de maio, acontece o grande susto com a delação premiada de Joesley Batista, e fortes indícios de que Temer estava envolvido em corrupção passiva, versão da Procuradoria Geral da República que a Câmara dos Deputados não acatou, o que teria levado ao afastamento do presidente.
A partir de então, Michel Temer é um presidente debilitado. A Reforma da Previdência está engavetada – e sem ela o problema fiscal se acentua perigosamente -, e o Planalto se lança em operações desencontradas ou de baixa viabilidade, como a obtenção de R$ 46 bilhões por meio de 56 privatizações.
Os que apostaram cautelosamente suas fichas em Temer – os empresários estão nesse imenso coletivo – colocaram as mãos na cabeça e perceberam que restava como roteiro satisfatório apenas a condução do país, sem maiores trancos, até as eleições de 2018.
Em outras palavras, as apostas caíram para um patamar mais baixo, em que o único porto para a ancoragem mais segura continuou a ser o ministro Henrique Meirelles e a equipe econômica competente que ele montou.
(AINDA) SEM AUMENTO DE IMPOSTOS
A grande questão – a necessidade de não aumentar impostos – tem sido por enquanto respeitada, por mais que a deterioração da situação fiscal deixe um ponto de interrogação em cabeças tão prestigiadas quanto a dos economistas Samuel Pessôa e Marcos Lisboa.
É claro que, entre tantas más notícias, o empresariado encontra motivos periódicos para algum respiro. Como o boletim da consultoria Eurásia, divulgado nesta quarta-feira (30/08), prevendo que Lula seria triturado por João Doria, caso ambos sejam os finalistas da próxima sucessão presidencial.
Ou então os sérios problemas que Lula enfrenta em sua caravana de três semanas pelo Nordeste, com afluência reduzida aos comícios que o PT convocou.
O que indica ser procedente a informação, publicada por O Estado de S. Paulo, de que pesquisa interna do Planalto indicou que a popularidade de Lula no Nordeste caiu oito pontos nos últimos meses.
A inflação continua em queda, as taxas de juro também caem com a Selic, mas o crescimento da economia é ainda modesto e, apesar de tudo, os índices de confiança continuarem em lenta recuperação.
Estamos longe daquele Eldorado que os mais otimistas enxergavam na noite de 17 de abril do ano passado, quando a votação do impeachment pela Câmara tornou o processo da queda de Dilma irreversível.
Em verdade, os mais pessimistas é que estavam certos. O trunfo que eles tinham em mente estava na previsão realística dos estragos provocados pela Lava Jato.
Ela destruiu ou avariou seriamente a reputação de quadros políticos sobre os quais era possível depositar alguma confiança.
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