Brasil está mal na foto da mídia internacional
Mas investidores não se retraem e aproveitam negócios mais baratos em razão da desvalorização do real
Carregada pelas informações negativas na área econômica, a imagem do Brasil na mídia internacional atravessa um momento delicado.
Levantamento do Diário do Comércio em dez emissoras e publicações, neste mês de janeiro, indica que das 100 últimas notícias publicadas, apenas nove eram positivas. Onze eram neutras, e 80, negativas.
Mas não há uma relação direta entre essa visão desfavorável e o investimento estrangeiro direto.
Do Banco Central à Unctad – agência da ONU para a área -, o diagnóstico é o de que os investidores estrangeiros pensam no longo prazo e que, de imediato, aproveitam a desvalorização do real frente ao dólar, o que tornou o Brasil mais barato.
Ou seja, o jornalismo não é o único meio para que os investidores se informem com relação ao país, por mais que o noticiário crie um ambiente negativo que acaba afetando o humor de instituições financeiras, empresas ou fundos de investimentos.
A pesquisa do Diário do Comércio cobriu as emissoras americana CNN e a britânica BBC, os jornais New York Times e Washington Post (Estados Unidos), Le Monde (França), The Guadian (Reino Unido), Público (Portugal) e El País (Espanha), e os semanários Economist (Reino Unido) e l´Express (França).
Por meio do levantamento, que propositalmente apenas ignorou informações sobre esportes, três temas têm sido recorrentes: a recessão, a corrupção (com os desdobramentos no noticiário sobre a Petrobras) e o zika vírus.
Com relação a este último o Brasil sai muito mal na foto, porque, apesar de o vírus estar espalhado por outros países latino-americanos, foi daqui que saiu a contaminação para o único caso de microcefalia nos Estados Unidos –no Estado do Havaí. Foi destaque no New York Times, no Washington Post e no Guardian.
Outro foco de interesse foram os acidentes ambientais – o estouro da barragem de Mariana (MG) e a fumaça tóxica do Guarujá (SP) -, que passaram na BBC, no Le Monde, no L´Express e na CNN.
As informações da economia compõem um voo negativo em toda a mídia. A BBC destaca os efeitos da recessão na população mais pobre, o Le Monde aborda as quedas do Ibovespa, a inflação e as desconfianças do mercado com relação ao ministro da Fazenda Nelson Barbosa.
A Economist discorre sobre os efeitos da redução dos investimentos da Petrobras e, em outra reportagem, sobre “os desastres de Dilma”, enquanto El País é o único a abordar, por duas vezes, o esforço do governo para recuperar a economia, via exportações ou crédito interno.
No geral, entretanto, e fora da mídia, o que está em foco é a governabilidade do Brasil, com o mercado externo pessimista com relação à capacidade de o Executivo enfrentar a crise. É o que demonstra pesquisa elaborada para o Fórum Econômico Mundial, que se instalará nesta quarta (20/01) em Davos.
O texto se baseou em pesquisa com 13 mil empresários, 60% dos quais indicaram que “o fracasso da governabilidade” é hoje o maior risco para fechar negócios com o Brasil.
Mas voltando à mídia internacional. Os episódios positivos têm um peso menor. É o caso do Guardian, que noticia a criação de novos aplicativos para a rede educacional, do El País, com o perfil um empresário do turismo de infância muito humilde, do L´Express, que aborda o etanol de segunda geração, ou da CNN, com os bons efeitos das Olimpíadas no setor carioca da construção civil.
Mas esse conjunto de informações afeta pouco os investidores dispostos a investir no Brasil, segundo afirma Ricardo dos Santos, um dos sócios da FK Consultoria.
“Como o real está mais barato, é grande a procura de grupos que chegam para investir em imóveis, comprar terras para a agricultura ou mineração e se associar a empresas.”
O último relatório da Unctad, publicado em junho do ano passado, indica que o Brasil está na sexta posição entre os mercados que mais atraem investimento, embora registre uma queda de 2,3% com relação ao ano anterior.
Foram US$ 62 bilhões em 2014, com crescimento na indústria e serviços e queda na agricultura e mineração.
Em 2015 podem ter sido US$ 65 bilhões, segundo estimativa do Banco Central. A instituição acredita que a tendência favorável se mantenha em 2016, atraindo sobretudo investidores em logística e infraestrutura.
O Brasil é procurado, pela ordem, por investidores dos Estados Unidos, China, Japão, França, Espanha e Itália, que valorizam o petróleo, o gás, a mineração, o comércio, as telecomunicações e energia elétrica e a indústria.
Outra consultoria, a Pwc, indica em estudo que as fusões e aquisições por parte do capital estrangeiro caíram 16% no ano passado em relação a 2014, com 742 operações que, em razão da queda, registraram o menor nível desde 2009.
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